Uma análise sobre os investimentos em inovação, comparando o Brasil aos grandes polos do setor, projeta um futuro positivo para o país
Acredito fortemente que o empreendedorismo é uma poderosa ferramenta transformacional, que surge da coragem de cada indivíduo de apostar no incerto e correr atrás de seus sonhos. Como disse o Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, durante seu discurso de posse: “Cada um de nós pode se tornar um herói para mudar o destino deste país “.
Brasil e outros polos de inovação
Porém, somente a vontade de empreender não é suficiente para tirar ideias do papel e girar a nossa economia. Faz-se necessário um ecossistema de inovação que funcione bem, de forma justa, para que o empreendedor tome coragem para arriscar. É justamente sobre estes temas que eu gostaria de ouvir mais do nosso ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação. Enquanto o planejamento ainda não é divulgado, eu gostaria de tratar de alguns KPI’s de inovação de países que já são reconhecidos polos de inovação, Estados Unidos, China e Israel.

Fonte: IPEA, OECD. Câmbio USD/BRL ajustado para 4 reais.
O gráfico acima nos traz o volume de capital investido em bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento.
No caso do Brasil, está verba é dedicada a fundos como a Finep, que, com fundamento na Lei de Inovação e nos Fundos Setoriais, passou a dispor de bases jurídicas e recursos para lançar diversos programas direcionados ao setor produtivo. Estes recursos estão divididos nas modalidades de subvenção econômica, concessão de crédito com taxas de juros subsidiadas e participação acionária em empresas por meio de fundos de venture capital e capital semente.
Os grandes volumes de recursos que foram alocados para a Finep, que atua como Secretaria Executiva dos Fundos Setoriais, e a abrangência dos programas adotados – envolvendo novas ações que passaram a alcançar com mais intensidade instituições de ciência e tecnologia nos estados – tornaram a agência um órgão basilar no apoio à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no Brasil.
Ao compararmos o Brasil com Israel, percebemos que estamos quase no mesmo patamar. Mas, quando comparamos o volume de capital com Estados Unidos e China, fica clara nossa discrepância nestes investimentos.
O grande destaque vai pra China, que no ano 2000 decidiu se digitalizar e se tornar um polo de inovação. O Brasil estava quase no mesmo patamar que a China a 19 anos atrás. Na época, o governo chinês tomou algumas medidas mirando o líder de inovação (Estados Unidos) e, mais especificamente, o Vale do Silício.
Quanto aos setores de atuação, a China focou em nanotecnologia, desenvolvimento de novas drogas, biotecnologia e inteligência artificial. A métrica utilizada para ver se os objetivos estavam sendo alcançados foi a produção de patentes.

Fonte: Israel Patent Office, INPI, WIPO.
Hoje, a China é ranqueada entre os cinco primeiros países no mundo que mais dão entrada em patentes. Em 2017, o Brasil deu entrada em um pouco mais que a metade do volume da China. Para alavancar a produção de patentes, a China fez com o que o subsídio de inovação das empresas estivesse ligado à quantidade de patentes que produzissem. Além disso, o salário dos professores na China foi atrelado à quantidade de artigos que estes professores conseguiam publicar em jornais e revistas científicas.
Outro ponto interessante foi que a China disponibilizou quantias de dinheiro significativas para atrair cérebros chineses que estavam espalhados pelo mundo, gerando inovação e lucro em outros países. Isto fez com que pesquisadores e empreendedores voltassem a China e impulsionassem a inovação.
A previsão é de que 2019 seja o ano da virada e a China passe os EUA em investimentos em inovação. Vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, alega que a China vem ao Vale do Silício, copia tudo o que vê e leva para produção no seu país, segundo ele, “um roubo ao mercado atacadista de tecnologia americana”.
O que a China fez é diferente do que aconteceu no Vale e será diferente do que irá acontecer no Brasil. O ambiente, as pessoas e as leis são muito diferentes nos três países – por isso a minha curiosidade em saber os planos do ministro Marcos Pontes.
* Também não gostamos de Spam, não se preocupe.
Paulo Guedes e o Govtech
Outro ponto de destaque, muito positivo por sinal, foi o ministro da Economia ter falado em seu discurso sobre Govtech.
Meu trabalho aqui no Vale do Silício é ajudar empresas a realizar sua transformação digital com startups. As startups são meios das empresas testarem suas hipóteses de inovação o mais rápido possível, entender o que funciona, e então escalar esta inovação dentro da instituição. Depois de alguns anos de experiência fazendo isto com grandes empresas, foi possível chegar a um número concreto: inovar com startups é 50x mais rápido do que a empresa tentar fazer a inovação dentro de casa.
Já trabalhamos aqui com Fintech, Agrotech, Healthtech, Biotech, Contrutech, Energytech, RH Tech, EdTech, etc, para empresas como Gerdau, Eurofarma, Sicred, Tigre, dentre outras. Quando o Paulo Guedes mencionou que, em seu planejamento, iria incluir Govtech, isto soou como música para meus ouvidos.
Isso significa que ele irá tomar iniciativas para tornar o governo mais ágil, transparente, com excelência operacional e moderno! Isto tem um efeito em cascata gigantesco pois irá eliminar muitos gargalos que geram altos custos por ineficiência e tornam processos morosos e complicados, e ele pretende fazer isto, de acordo com minha experiência, de uma forma 50x mais rápida que a tradicional. Sensacional!
Quando falamos de Govtech, nos referimos a startups de hardware e\ou software para governos significativamente melhores do que as existentes. Estas ferramentas são construídas com modernas práticas de desenvolvimento de aplicativos e stacks de tecnologia, inspiradas desde o início pela experiência do usuário, vendidas a preços que respondem por orçamentos cada vez mais restritos e sem aprisionamento de fornecedores, personalizações intermináveis, sessões de treinamento ou contratos de manutenção perpétua.
Por meio de sua inovação, as startups de Govtech permitem que o governo – local, estadual e federal – se torne mais eficiente, mais responsivo e mais capaz de servir à sociedade.
Sou responsável pela área de Innovation Intelligence aqui na StartSe e puxei alguns dados interessantes sobre Govtech no nosso sistema. Nós conseguimos mapear mais de 2,500 startups de Govtech em todo o mundo. Estas startups receberam mais de 38 bilhões de dólares nos últimos nove anos. O gráfico abaixo ilustra bem a evolução dos investimentos nesta área. Ele nos mostra que, desde 2011, o investimento em Govtech vem crescendo, com queda em 2017 e forte retomada em 2018, ano que, mesmo com menos negociações, teve um maior capital investido, o que é um forte indicador de startups mais maturas no ecosistema.

Fonte: StartSe Intelligence
Outro ponto interessante de entender é a localização destas startups: elas estão localizadas principalmente nos EUA e Reino Unido. A China aparece apenas em terceiro lugar.

Fonte: StartSe Intelligence
Assim como todos os brasileiros, torço para o sucesso rápido do nosso país. Até agora, todas as declarações por parte da economia e gestão de inovação têm sido animadoras.
Gostaram?
Luiz Gonzaga
Líder do Corporate Innovation no Vale do Silício, pós-graduado em Finanças pela UC Berkeley e integrado na revolução tecnológica pela qual o mundo está passando, busca ajudar empresas brasileiras a redesenhar o futuro. (Startse)